De ofício a terapia
Projeto da Abrace oferece habilidade artesã para as mães dos assistidos e torna-se uma terapia para elas
Publicado dia 18/07/2018 às 12h00min
Adquirir uma nova habilidade é maravilhoso, desperta o sentimento de capacidade e autonomia nas pessoas. Pensando nisso, a Abrace desenvolve, em parceria com a Fundação Banco do Brasil o projeto Abrarte, responsável pelo financiamento do material e da instrutora. O objetivo das oficinas é oferecer um ofício para as mães dos assistidos, para que elas possam adquirir uma renda extra. Mas o projeto tem ido além, oferecendo também momentos terapêuticos, em que elas se distraem umas com as outras e se desligam um pouco da preocupação com o tratamento dos filhos.
Sebastiana Rodrigues da Cunha, por exemplo, é de Roraima e mãe do assistido Wualison Rodrigues da Silva, 12 anos, que está em Brasília há 8 meses tratando uma Aplasia de Medula Óssea. Durante o período na Abrace, ocorreu uma turma do projeto Abrarte. Foi uma válvula de escape para a mãe do pequeno guerreiro. “Eu achei o curso maravilhoso. Como eu não sabia fazer nada, o que aprendi foi ótimo. O bom do curso é que também é um momento para a gente se distrair, pensar em outra coisa. A gente fica ali bordando, conversando com a professora e com as mães, é maravilhoso”, desabafou Sebastiana. Quando voltar para casa, ela pretende colocar em prática o que aprendeu com o projeto e vender seus produtos por lá. “Vou vender primeiro para os parentes, porque aí a gente vai treinando até ficar bom de verdade, aí depois vou vender para outras pessoas”, conta.
As oficinas são só elogio das alunas. Vanuza de Jesus Araújo, mãe da pequena Osvaldina Ana de Jesus Andrade, 6 anos, confessou que além de aprender um novo ofício, que lhe proporcionará uma renda extra, também pode ter momentos de distração. “Gostei muito, foi algo novo que aprendi, até porque a gente tem dias muito difíceis e o curso nos acalma, faz esquecer de casa, dos problemas, me sentia mais tranquila nas aulas. Me fez tão bem que antes de voltar preparei um monte de material para levar e aprender coisas novas”. Vanuza e Osvaldina moram em Mirassol d’Oeste-MT, mas ficaram dois meses na Abrace para o tratamento da palassemia da menina.
Para Rose Mary Sartes da Silva não é diferente, ela também viu no curso uma oportunidade de aprender uma nova habilidade e motivar as outras mães. “É bom ir para aprender, mas também para falar de outra coisa. Às vezes, eu via algumas mães desanimadas e dizia para a professora: ‘pode deixar que vou lá buscar essas mulheres’. E carregava todo mundo para a aula”, relatou. Além do tempo em que praticava o artesanato nas aulas, Rose ainda produzia nas horas vagas. “Tinha dia que eu ficava até de madrugada fazendo minhas coisas. Era bom porque a mente ficava mais leve e isso me dava ânimo, me descansava” revela. Rose é mãe do assistido Carlos Eduardo Silva, 8 anos, que tem linfoma Burkitt.
As oficinas são conduzidas pela artesã e professora Marcela Buralli. Ela reconhece o bem que o projeto faz para as mães. “O objetivo principal sempre foi a capacitação profissional, para elas terem um retorno financeiro, mas eu vi que esse trabalho e o próprio artesanato em si têm um potencia terapêutica enorme e acaba que o retorno financeiro é uma consequência, porque o projeto tem um ganho muito mais forte”, relata. Marcela contou, ainda, que mesmo as mães que não desejam trabalhar com artesanato participam da oficina pelo benefício terapêutico que ela oferece.
E não são só as mães que aprendem. “Eu tenho aprendido muito com elas, especialmente em relação à combinação de cores. Sempre tive dificuldade com a cor vermelha, por exemplo, achava que era uma cor que pesava, e elas fizeram combinações maravilhosas. É uma troca”, avalia a professora.
O projeto Abrarte é direcionado para as mães dos assistidos, quem tiver o interesse em participar, basta procurar as assistentes sociais da Abrace e informar o interesse na turma.