Em lives realizadas pelas redes sociais, foram abordados diversos aspectos do tratamento do câncer infantojuvenil para destacar a importância do diagnóstico precoce

Integrando o Setembro Dourado, e unindo esforços para a campanha nacional que acontece anualmente para a conscientização sobre o diagnóstico precoce, a Abrace promoveu na última semana de setembro – entre os dias 26 e 30- a Jornada Dourada. Com quase cinco horas de diálogo sobre diversos aspectos do tema, a programação foi composta por lives transmitidas pelo Instagram com especialistas e profissionais que atuam na luta contra o câncer infantojuvenil.
No primeiro dia, a presidente da Abrace, Maria Angela Marini destacou o acolhimento e assistências realizadas pela Abrace, e a história da instituição que transformou o cenário da oncopediatria no Distrito Federal. “A Abrace surgiu de uma corrente de solidariedade de pais e mães que passavam com seus filhos pelo tratamento de leucemia no Hospital de Base de Brasília sob a inspiração da doutora Maria Nazaré Petrucelli, fundamos a Abrace em 1 de maio de 1986. Um ano depois de começarmos o tratamento da nossa filha”, explicou a presidente.

Maria Angela, que também é mãe de uma criança diagnosticada com leucemia aos cinco anos e hoje curada, abordou ainda a importância de desmistificar a doença e como é necessária a divulgação e entendimento da campanha, afinal o diagnóstico precoce pode salvar vidas. “Estamos há 36 anos fazendo isso, e nós podemos alcançar melhores resultados com o diagnóstico precoce”, acrescentou.

Programação intensa

A Jornada Dourada contou ainda, na programação do segundo dia de atividades, com a presença da presidente da Confederação Nacional de Instituições de Apoio e Assistência à Criança e ao Adolescente com Câncer – Coniacc, entidade que coordena a campanha do Setembro Dourado. Teresa Cristina também é médica especialista em hematologia e oncologia, e falou sobre o cuidado ao falar sobre a doença de forma sensível, para as famílias e pais, lembrando que as possibilidades de cura são altas quando o recorte é o público infantojuvenil.

“A partir do momento que a gente faz de uma forma lúdica, mas singela, mostrando que o câncer existe e que precisa estar atento, tratamos esse tema de uma forma que todos da população entendam. O câncer é uma doença que existe, e que precisamos ficar atentos, e que as chances de cura são acima de 70% quando estamos diante de um diagnóstico precoce”, destacou a presidente da CONIACC.

Ela defendeu ainda a qualificação nas carreiras de formação em medicina, e falou sobre os avanços realizados e os que ainda são necessários para melhorar os índices de cura que não evoluíram no Brasil conforme a expectativa nos últimos anos. “A grande lição é que ninguém pode estar sozinho nessa luta. Nós da sociedade civil organizada, somos os principais porta-vozes da família e da criança com câncer, que muitas vezes é aquela mãe que já está tão fragilizada diante de uma doença e de um tratamento difícil, que as vezes para buscar o seu direito não é ouvida e se recolhe para a instituição de apoio. O Setembro Dourado é aquele mês que a gente vai fazer uma reflexão: O que podemos fazer para melhorar a taxa de cura das nossas crianças?”, concluiu Teresa Cristina.

A programação contou também com a presença de Laura Ostwald, psicóloga e Joyce Silva, assistente social, ambas profissionais na Abrace. Elas abordaram o olhar da assistência social e da psicologia na luta contra a doença, aprofundando o tema sob esses aspectos tão importantes na assistência realizada às famílias que estão em tratamento. Giulianno Cartaxo, jornalista e voluntário da Abrace, além de já ter enfrentado um tratamento de câncer, também participou da programação encerrando os diálogos promovidos, falando sobre boas práticas da comunicação na área, com foco no diagnóstico precoce e na campanha do Setembro Dourado.

Evolução no tratamento e diagnóstico precoce

O ponto de vista médico também se fez presente, com a participação da doutora Isis Magalhães, oncologista hematologista pediatra a e diretora técnica do Hospital da Criança de Brasília José Alencar, além de compor o Conselho Técnico-Científico da Abrace. O diálogo foi mediado especialmente pela presidente da Abrace, Maria Angela Marini.

A doutora Isis destacou as diferenças entre o câncer em adultos e crianças, com a origem da doença em células embrionárias que estão em divisão acelerada.  “É um câncer que a gente diz que é sistêmico. Mas paradoxalmente ele responde melhor à quimioterapia, que são medicamentos que interferem na divisão celular. É dado via oral, a maioria venoso e eles entram na divisão celular e destroem a célula. O mundo mostrou, nos primeiros estudos, que era possível aumentar a chance de cura, mas com quimioterapia intensiva em tempo e em dose. São protocolos que vão aos poucos definindo quais os tipos de tratamento padrão para cada tipo de tumor”, acrescenta.

Ela explica que esses protocolos multimodais, com vários tipos de medicamentos juntos em sequência auxiliam no tratamento e nas chances de cura, mas que no caso do câncer infantojuvenil não há possibilidade de prevenção como ocorre em alguns casos da doença em adultos que podem ser provocadas por fatores ambientais. Para as crianças e adolescentes, a melhor arma é o diagnóstico precoce, e os profissionais de saúde também precisam estar atentos. “O melhor conselho é: escutem as crianças, olhem as crianças. A criança fala pelo comportamento, é transparente. Por isso, falamos na formação dos novos médicos para que aprendam a escutar a mãe. Observe a criança como entra no consultório, veja a relação com a mãe, o estado emocional da mãe para que possamos dar um acolhimento adequado. Aí sim chegamos a um diagnóstico”, destaca Isis Magalhães.

Ela destacou ainda a Abrace diante do cenário de oncologia pediátrica no Distrito Federal e o impacto de investir na área, a exemplo do HCB, que teve seu primeiro bloco construído com recursos da comunidade através de diversas campanhas realizadas pela Abrace. “A Abrace, aos voluntários e voluntários fundadores, meu sempre reconhecimento e gratidão eterna. Isso ajudou a oncologia pediátrica da capital a entrar em uma espiral de ascensão, de melhoria, de podermos usar os protocolos que apresentavam os melhores resultados. E é contínuo, a ciência segue e nós vamos juntos. Então essa parceria tem que continuar”, concluiu.

Texto: Mariana Camargo