Amor vivenciado na prática

Com longa história na Abrace, os doutores-palhaços iniciam mais uma turma de formação para aumentar o grupo e ensinar a mais voluntários a arte de fazer rir

Publicado dia 24/05/2018 às 12h00min

“Doutores são autoconhecimento, aceitação e puro amor. Ser ‘besteirologista’, bem como ser voluntária, é fazer parte da construção de um momento, mas com a certeza de que fomos apenas um instrumento e ter orgulho disso.” Assim, a doutora Violeta Pierre resume o significado do trabalho dos médicos-palhaços da Abrace ou, como é conhecido, os Doutores com Riso.

O grupo está em pleno crescimento. São 19 aprendizes de médico-palhaços inscritos na 2ª edição da oficina de formação, que iniciou as suas aulas no dia 28 de abril e vai até o dia 23 de junho, durante os sábados pela manhã. São cerca de 2 meses de encontros até a formatura, cumprindo um total de 32 horas-aula. Uma das participantes é a Sônia Selma Rodrigues Duarte, de 54 anos, professora, aposentada. Ela decidiu aceitar o desafio por incentivo dos alunos que enalteciam o seu bom humor. “Meus alunos sempre me acharam uma palhaça! Sempre trabalhei o mundo do circo com eles, fazíamos até algumas oficinas de palhaço, mas nada tão profundo quanto o que encontrei no Doutores com Riso”.

Sônia já era voluntária da Abrace há quase 1 ano. Durante esse tempo, atuava no grupo Posso Ajudar, triando as doações que chegavam à sede da instituição. Agora, está envolvida com a palhaçaria e gostando bastante. “Porque não é apenas uma oficina do riso, mas uma coisa maior, sobre leveza, sobre relação com o ser humano, comunicação não violenta e como se colocar no lugar da criança. Eu me surpreendi muito. Ser palhaço é coisa séria!”, opina.

Quem está ministrando as aulas são os médicos-palhaço Dr. Ultra (Rômulo Santos Rodrigues) e Dr. Sovaco (Leandro Rito). Veteranos na arte da besteirologia e na história do grupo de 13 voluntários que continuam ativos no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB), visitando os pacientes internados toda quarta, sexta e sábado. “Mudamos um pouco a forma de ministrar as aulas da 1ª para a 2ª oficina, estamos nos aprofundando um pouco mais no papel do palhaço, até porque alguns alunos já atuaram como palhaços”, conta o Dr. Ultra.

Toda risada tem uma história

O surgimento da atividade começa antes do 2000, com o antigo grupo Pronto Sorriso. Eram voluntários da Abrace que atuavam no Hospital de Apoio e no Hospital de Base, porque, na época, o HCB ainda não existia. O Dr. Ultra (Rômulo) participava desse grupo. “Tínhamos a Márcia Ico como representante. O grupo foi formado inicialmente por Wellington (Dr. Confarra), Ivone (Dra. Bela Vida), Alessandra (Dra. Salaminho) e eu. Em seguida, o Carlos Leal (Dr. Serelepe) foi selecionado e foi o único que permaneceu””, relembra Rômulo.

Os doutores Serelepe e Ultra formaram uma dupla de trabalho eficaz até julho de 2007. A partir daí, o grupo Pronto-Sorriso teve suas atividades suspensas por conta da transferência no trabalho de Carlos. Oito anos se passaram até que ele voltasse para Brasília, reencontrasse Rômulo e decidissem que o trabalho voluntário deveria voltar. Eles apresentaram um projeto para Abrace e, com a devida autorização, as palhaçadas retornaram em setembro daquele ano. Não demorou muito para as novas demandas aparecerem. “Depois de alguns meses, as pessoas queriam saber como participar. Foi então que surgiu a ideia de fazer uma oficina de médico-palhaço”, lembra Carlos.

A 1ª Oficina de Médico-Palhaço da Abrace foi inaugurada em março de 2017 e reuniu mais de 30 voluntários. Por problemas no meio do caminho, apenas 18 se formaram, com direito a cerimônia presenciada pela família e padrinhos. “Foram momentos maravilhosos, onde conheci pessoas incríveis e aprendi o dom de espalhar o amor, onde a dor é a companheira mais frequente das nossas crianças, o hospital. Sou feliz e realizada. Espero levar a Doutora Pitchulinha para muitos lugares, onde a pureza e o sorriso de uma criança e seus familiares sejam o meu maior presente”, expressa Dra. Pitchulinha Mertiolate que não arde (Marli Trindade), uma das formadas na primeira oficina do grupo.