Por causa da pandemia, o evento estava há dois anos sem acontecer e marcou com muita emoção o momento de lembrar daqueles que partiram com amor e acolhimento profissional

O Encontro da Saudade é o momento de reunir as famílias que já passaram pelo árduo tratamento contra o câncer e tiveram que se despedir de seus pequenos guerreiros, que lutaram a batalha, deixando memórias e muita saudade. O evento foi realizado no dia 18 de novembro em parceria com o Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital da Criança de Brasília José Alencar além da equipe do Programa William na Abrace, contando com cerca de 50 famílias que compartilharam suas histórias com acolhimento e amparo profissional, dividindo um pouco da dor, mas também da força e coragem que vivenciam.

O momento contou com uma galeria de exposição com fotos das crianças e adolescentes que tiveram assistência do Programa William e da equipe do HCB, além de dinâmicas propostas pelos profissionais do Hospital para lidar com o luto.

Maria Angela Marini, presidente da Abrace, destacou que compartilha a dor de cada pequeno anjo que deixa também a instituição, e que a saudade vem carregada de boas lembranças, se solidarizando com cada família que viveu uma jornada longa e difícil contra a doença. “Hoje estamos aqui querendo mais uma vez ser o que nos sempre somos. Nossa missão é acolher em qualquer circunstância, e estamos sempre com as portas abertas para vocês. Essa é a segunda casa que vocês podem contar com um aconchego, uma palavra, a qualquer momento que sentirem vontade”, concluiu.

Jannara Cristina da Cunha, enfermeira da equipe dos cuidados paliativos do Hospital da Criança de Brasília José Alencar, explicou que o Encontro une as famílias para que se conheçam e dividam um pouco da dor que sentem. “Quando a gente divide um pouco da dor, e vê que outras pessoas passaram por algo parecido, a gente não sente que é só com a gente. Olhamos para vocês e vemos o quanto vocês são fortes de conseguir ir em frente. Não é fácil encontrar ar para respirar, não é fácil encontrar como cuidar dos outros filhos que ficaram, não é fácil lidar com a dor dos irmãos! Mas a gente vai lutando um dia de cada vez”, acrescentou.

A psicóloga do HCB, Heidmilene Gonçalves, propôs algumas dinâmicas de memórias e diálogos e destacou que o momento é para acolhimento também. “Quando chegamos no Encontro da Saudade, nos permitimos estar no lugar similar a vocês. Cada família tocou a gente de uma forma singular, e para nós é muito importante esse encontro, então ficamos muito felizes de tê-los aqui e fazemos um encontro também para nos cuidarmos”, explicou.

Bálsamo

Para o médico oncologista José Carlos Córdoba, referência na área, a dor não é ignorada, mas o encontro e apoio oferecido pode ser um bálsamo nessa ferida que segue aberta. “Queremos dizer que a gente não sabe, mas a gente entende que não deve ter sido fácil tomar a decisão de vir aqui hoje. Nós sabemos que rever as pessoas e compartilhar conosco momentos difíceis, de dor, nos fazem relembrar esses momentos. Mas hoje nós queremos acolher vocês, trazendo à a memória os momentos bons, para que a gente possa entender que a partida é só um momento e um dia vamos nos encontrar”.

Fernanda Souza atua há sete anos na área de cuidados paliativos, a frente do Programa William na Abrace, e que ao olhar para cada família presente, reviveu muitas memórias e lembrou que o sentimento de respeito e admiração pelas famílias alí era vívido e forte. “Vivemos várias histórias juntas. As vezes a gente chega no momento mais difícil da vida de vocês. E queria dizer hoje, para cada mãe, para cada pai, que eu admiro vocês”, disse Fernanda.

Mônica de Araújo da Silva, mãe da Sophia Victoria de Araújo Silva, cantou para os presentes um louvor e lembrou da saudade e do suporte recebido durante o tratamento de sua filha. “Ninguém perde ninguém. Nós estamos aqui de passagem para aprender, para ensinar e para cumprir nosso propósito na terra. A luta não foi fácil, mas Deus tem propósito em todas as coisas e ele me deu essa missão de cuidar de um anjo e colocou anjos na terra também para nos ajudar a cuidar dela. E a gente não tem palavras para agradecer a Abrace, o HCB e todos aqueles que nos acompanharam durante essa batalha”, concluiu.

O evento contou ainda com a presença da Diretora de Assistência Social e Hospitalar da Abrace, Lysia Freire de Alarcão e outros profissionais da equipe de cuidados paliativos do HCB e terminou com todos cantando a música “Como é grande o meu amor por você” e soltando balões brancos para homenagear os pequenos anjos que deixam marcas na história da Abrace.

Texto: Mariana Camargo