Energias solares

Publicado dia 20/02/2019 às 17h00min

Tem pessoas que ao passar por um momento turbulento se apegam à fé, outras compartilham suas rotinas em canais nas redes sociais, outras se revigoram com o acolhimento da família. A Anna Luísa Moura escolheu ter o sol como amuleto para se energizar. Coincidência ou não, a estrela central do sistema solar, foi também a inspiração para a música que o cantor Vitor Kley lançou ao Brasil, em 2018, e se tornou a música favorita da pequena Anna.

Em maio do ano passado, Anna Luísa sentiu fortes dores de cabeça. Foi um longo caminho até ter o seu diagnóstico fechado. O resultado de uma ressonância magnética levou a menina a sua primeira cirurgia para retirada de um tumor no cérebro.

Com 5 anos, Anna Luísa já enfrentou 15 dias de UTI, uma hidrocefalia, 2 cirurgias, sessões de quimioterapia e radioterapia. A Abrace acompanha seu caso desde o início e ofereceu assistência psicológica a toda a família. “Até então não sabia como funcionava [o tratamento de câncer], achávamos que era só fazer a cirurgia, retirar o tumor e estava tudo bem, mas descobrimos que não”, relembra a mãe, Fernanda Moura. Após a primeira cirurgia, Ana não se alimentava direito e não conseguia andar. Uma das distrações da menina era o tablet, que usava para ouvir música. Foi assim que ela encontrou a canção “O Sol”, no Youtube.

Fernanda, sua mãe, define a filha como decidida. Não à toa, os pais logo perceberam que a Anna estava escutando muitas vezes a música que falava sobre a força e a sensação do sol. “Uma vez no caminho da quimio ela escutou a música na rádio e se animou muito, pediu para aumentar e cantou algumas partes”, conta. A partir de então, os pais começaram a pôr mais vezes e pronto! Estava escolhida sua música tema. “Eu percebo que a música deu uma força para Anna Luísa, uma alegria que ela poderia não ter, talvez, se não tivesse a música todo dia de manhã”, observou Fernanda. Ela começou a publicar em seu Instagram as reações e momentos da filha com a música, principalmente com os voluntários da Abrace, que aprenderam a tocar a canção especialmente para a menina e a acalmavam em momentos de dor.

Foi na manhã de 16 de fevereiro, em um sábado que Péricles Alcântara, pai de Anna, descobriu que o ídolo da filha iria fazer show em Brasília. Ainda na véspera, ele correu atrás de quem poderia proporcionar a pequena conhecer o cantor. Conseguiu. No dia 17, Anna subiu no palco e (en)cantou a sociedade brasiliense com a sua emoção ao cantar “ô sol, vê se não me esquece e me ilumina…”.   

Repercussão

Antes do show, Anna recebeu um vídeo do Vitor Kley avisando-a que ele estava chegando para conhece-la. Ficou ansiosa, falou para todo mundo. Ela e seu irmão foram recebidos no camarim pelo cantor. Eles conversaram, ela contou que batizou seu cachorro de sol por causa da música, tiraram fotos e ela disse: “eu quero subir no palco. ” Eles se abraçaram e seu desejo foi atendido.

Um anônimo gravou o vídeo do momento, publicou na internet e em um piscar de olhos viralizou. Jornais, blogs e até programa de TV procurou Anna e seus pais para uma entrevista. “Ela [Anna Luísa] tem a personalidade muito forte. Ali no vídeo é ela, exatamente ela. Tanto que nós, pais, não entendemos o porquê do choro na hora e perguntamos o motivo?”, diz a mãe. Sua resposta foi ao ar no Fantástico, dia 10 de março: “porque eu tava sentindo alegria, porque eu nunca vi o Vitor Kley.”

A mãe comenta que ela e o pai não conseguem demonstrar o carinho que a filha tem pela música, mas esperam que o vídeo seja uma forma de abrir os olhos para o trabalho da Abrace e do Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB), onde a Anna recebe o seu tratamento, de forma pública. “Eu confesso que era tudo novo para mim. Ninguém vê uma criança com câncer andando na rua, até porque não pode. Por isso é desconhecido. Quem vê a Anna Luísa ali no palco, cantando, não imagina a luta da família, o que se passa por trás”, desabafa, “é muito bonito todo o trabalho [da Abrace] e espero que possa ajudar mais crianças”.

Texto: Tainá Vieira

Fotos: Tony Santos e arquivo pessoal da família