Evolução do tratamento contra o câncer infantil em Brasília conta com reforço da Abrace e do HCB
Dia Internacional de Luta contra o câncer infantil destaca a importância de tratamento adequado e diagnóstico precoce. Diretora técnica do hospital, oncologista e hematologista pediatra Isis Magalhães explica mais sobre os tratamentos
Publicado dia 12/02/2021 às 20h25min
Na próxima segunda-feira, dia 15 de fevereiro, a Organização Mundial de Saúde, a Sociedade Internacional de Oncologia Pediátrica e centenas de organizações em 88 países se unem para reduzir a mortalidade infantil causada pelo câncer. Aproximadamente 400 mil crianças com idades de 0 a 19 anos são diagnosticadas a cada ano e trata-se da principal causa de morte de crianças e adolescentes entre 0 e 19 anos em todo o mundo. A data, marcada pelo Dia Internacional de Luta Contra o Câncer Infantil, não é de celebração, mas de alerta! Afinal, quando se trata de câncer infantojuvenil, o diagnóstico precoce pode salvar vidas.
A origem de cânceres infantis é geralmente desconhecida e não está relacionada com estilo de vida. Ou seja, não pode ser prevenida ou rastreada. Segundo a doutora Isis Magalhães (em destaque na foto principal), oncologista hematologista pediatra a e diretora técnica do Hospital da Criança de Brasília José Alencar, é importante destacar a diferença entre o câncer no adulto e na criança. “O câncer da criança tem um comportamento biológico diferente. É um câncer que tem um caráter sistêmico, dificilmente fica localizado. O câncer das crianças com essa biologia diferente, proveniente de células mais imaturas com grande capacidade de divisão celular são tipos mais agressivos que se instalam mais rapidamente. Mas em compensação, paradoxalmente, eles são mais sensíveis a quimioterapia, então tem mais chance de cura”, explica ela que também integra o Conselho Técnico-Científico da Abrace.
Os tipos mais comuns em crianças são as leucemias, linfomas e tumores do sistema nervosos central, segundo o INCA. A doutora Isis lembra que a arma mais importante no tratamento é a quimioterapia, que destrói a célula cancerosa, interferindo na divisão anormal. Como a quimioterapia atua também em células normais, acaba afetando a imunidade. Ela, porém, dá um retrato de esperança a partir da ciência. Afinal, os tratamentos evoluíram ao longo dos últimos tempos chegando a 85% de chance de cura para alguns tipos de leucemia em alguns países. O que impacta nesse índice ainda é o diagnóstico precoce e o tratamento adequado.
Pilares dos tratamentos
Segundo a oncohematologista pediatra, nas últimas décadas foram se desenvolvendo protocolos de quimioterapia para cada tipo de tumor. Grandes grupos internacionais de estudos desenharam protocolos para que as instituições tratassem as crianças de maneira uniforme, com resultados mais rápidos. Dessa forma os melhores resultados eram escolhidos e isso determinou o padrão de tratamento para cada tipo de tumor. Para trazer esses protocolos para Brasília, o desafio foi integrar três pilares.
“O primeiro pilar é que o tratamento do câncer da criança deve ser feito de forma centralizada na unidade de oncologia pediátrica, com equipe multidisciplinar, além de médicos de várias especialidades. Porque a quimioterapia tem que ser dada no centro que tenha posições de fazer o tratamento de suporte das complicações e toxicidades dos tratamentos pela quimioterapia”, acrescenta Isis. Foi esse desenho de centro de tratamento que, na década de 80 com a união de médicos e do grupo de pais que fundou a Abrace, deu origem ao HCB, hospital inaugurado em 2011 com recursos da comunidade levantados através de campanhas e eventos promovidos pela instituição, e que posteriormente foi doado à rede do SUS, tornando-se referência em oncologia pediátrica atualmente.
O segundo pilar trata sobre a capacidade de ter um diagnóstico preciso, visando recursos de genética, imunologia e biologia molecular. Ou seja, a união de resultados laboratoriais e dados clínicos a partir do uso desses protocolos. Essa junção foi importante, segundo a pediatra para conseguir avançar e se definir quais eram os melhores modelos de tratamento. E o terceiro pilar é o aprimoramento do diagnóstico. “Foi se descobrindo que cada tipo de câncer na verdade, tinha alterações diferentes do ponto de vista genético, imunológico e molecular. Eles foram definindo vários subtítulos que tinham que ser tratados de forma diferente. Isso chamamos de estratificação de risco”, explica Isis Magalhães.
A doutora destaca ainda que os tratamentos são longos, e variam em média por dois anos, impactando na vida da criança e também da família. “A família precisa receber todo o suporte psicológico e social. Consideramos que tem que haver uma parceria entre a família e a equipe de saúde que vai tratar daquela criança”, acrescenta. O diagnóstico precoce ainda é a melhor forma de aumentar as chances de cura do câncer em crianças. Por isso, fiquem atentos aos sinais e sintomas como palidez, hematomas, sangramentos, dores ósseas, caroços, inchaços, febre, perda de peso, sudorese noturna, alterações oculares, inchaço abdominal, dores de cabeça, vômitos, dor em membros do corpo, fadiga, letargia, mudanças no comportamento, tontura.
A expectativa de tratamento contra o câncer infantil, segundo a médica, está na chamada terapia-alvo, com o desenvolvimento de tratamentos que atuem no defeito que a célula tem, ao invés de apenas destruí-la. “Uma novidade que está se buscando em todo o mundo. A medicina de precisão que você define exatamente cada tipo de tumor, todas as alterações e as vias dentro das células que estão alteradas”, detalhou.
Abrace a causa
A Abrace atua na assistência a crianças e adolescentes com câncer e hemopatias há mais de 34 anos, possibilitando para além do tratamento hospitalar realizado no HCB, que as famílias possam ter condições de realizá-lo com qualidade e de forma integral. A instituição ajuda ainda assistidos que vem de outros estados em busca de tratamento na capital. “ No passado o que acontecia é que as famílias vinham, não conseguiam se manter e abandonavam o tratamento. Chegava a 20 ou 25% as crianças que abandoavam o tratamento e isso praticamente não existe mais”, finaliza a doutora Isis Magalhães.
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Fotos: Acervo HCB
Texto: Mariana Camargo